domingo, 23 de julho de 2017

Eça de Queirós - israelismo

Israelismo
de "Cartas de Inglaterra"
Eça de Queirós
[ensaios escritos entre 1877 e 1882]

«Na Alemanha, os judeus abundam, influindo na opinião pelos jornais que possuem (entre outros o Daily Telegraph, um dos mais importantes do reino), dominando o comércio pelas suas casas bancárias e, em certos momentos mesmo, governando o Estado pelo grande homem da sua raça, o seu profeta maior, o próprio Lord Beaconsfield. Aqui, decerto, estamos longe de ver desencadear um ódio nacional, uma perseguição social contra os judeus; mas há suficientes sintomas de que o desenvolvimento firme deste estado israelita dentro do estado cristão começa a impacientar o Inglês. Não vejo, por exemplo, que o que se está passando na Alemanha, apesar de exalar um odioso cheiro de auto-de-fé, provoque uma grande indignação da imprensa liberal de Londres: e já mesmo um jornal da autoridade do Spectator se vê forçado a atenuar, perante os graves protestos da colónia israelita, artigos em que descrevera os judeus como uma corporação isolada e egoísta, à semelhança das comunidades católicas, trabalhando só no mesmo interesse, encerrando-se na força da sua tradição e conservando simpatias e tendências manifestamente hostis às do Estado que os tolera. Tudo isto é já desagradável.»

«Porque enfim, sob formas civilizadas e constitucionais (petições, meetings, artigos de revista, panfletos, interpelações), é realmente a uma perseguição de judeus que vamos assistir, das boas, das antigas, das manuelinas, quando se deitavam à mesma fogueira os livros do rabino e o próprio rabino, exterminando assim economicamente, com o mesmo feixe de lenha, a doutrina e o doutor.»

«O motivo do furor anti-semítico é simplesmente a crescente prosperidade da colónia judaica, colónia relativamente pequena, apenas composta de quatrocentos mil judeus; mas que pela sua actividade, a sua pertinácia, a sua disciplina, está fazendo uma concorrência triunfante à burguesia alemã.»

«A alta finança e o pequeno comércio estão-lhe igualmente nas mãos: é o judeu que empresta aos estados e aos príncipes, é a ele que o pequeno proprietário hipoteca as terras. Nas profissões liberais absorve tudo: é ele o advogado com mais causas e o médico com mais clientela: se na mesma rua há dois tendeiros, um alemão e outro judeu, o filho da Germânia ao fim do ano está falido, o filho de Israel tem carruagem! »

«Mas se a riqueza do judeu o irrita, a ostentação que o judeu faz da sua riqueza enlouquece-o de furor. E, neste ponto, devo dizer que o Alemão tem razão. A antiga legenda do israelita, magro, esguio, adunco, caminhando cosido com a parede, e coando por entre as pálpebras um olhar turvo e desconfiado – pertence ao passado. O judeu hoje é um gordo. Traz a cabeça alta, tem a pança ostentosa e enche a rua. E necessário vê-los em Londres, em Berlim, ou em Viena: nas menores coisas, entrando em um café ou ocupando uma cadeira de teatro, têm um ar arrogante e ricaço, que escandaliza.»

«Mas o pior ainda na Alemanha é o hábil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem o luxo, tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Alemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociais – a Bolsa e imprensa. Quase todas as grandes casas bancárias da Alemanha, quase todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacável. De modo que não só expulsa o alemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulência rutilante e o traz dependente pelo capital; mas, injúria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que há-de fazer, o que há-de pensar, como se há-de governar e com que se há-de bater!»

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